Por Clara Days:
Ideias-chave: metamorfose para preservação; transição e voluntarismo; seguir o instinto, recomeçar.
Passou ontem a Lua Nova, a primeira desde o equinócio, e é um novo ciclo que agora se anuncia, carregado de simbolismos que anunciam transformação. A Morte e o Diabo não são essencialmente destrutivos, antes transportam, cada um à sua maneira, mensagens desafiadoras do status quo, porque precisamos de mudar. No entanto, são os dois arcanos cujos nomes geralmente mais tememos, por tudo aquilo que associamos às suas designações.
Comecemos pelo Diabo: a caracterização mais fácil para o definir fala-nos de compulsões e dependências, mas isso é uma maneira muito redutora de o considerar. O Diabo corresponde, antes de mais, aos instintos, de que somos dotados para a nossa sobrevivência e preservação. Representa também um modo de estar independente e voluntarista, dando-nos força para seguir com aquilo que sentimos precisar de fazer, por muito incómodo ou desafiador que seja. Ele recusa o conformismo, não segue ninguém, antes se afirma na sua singularidade, assumindo a responsabilidade por seguir um caminho pessoal mais ousado. Não obedece, não se verga, arrisca com determinação o seu percurso original. Há mais de um ano que não nos visita nestas leituras semanais, e talvez esta aparição, agora, seja prenúncio de que estaremos a começar a ter condições de retomar o controle das nossas vidas.
Se o Diabo nos dá o impulso interno para arriscar, a Morte força-nos a lidar com as nossas circunstâncias, porque a mensagem principal que traz é de que algo tem que acabar, para que algo novo possa começar. Não é uma ruptura brusca que nos propõe, mas sim uma verdadeira metamorfose. O que existiu já não faz sentido, vamos ter que abrir mão do que já não nos serve, do que nos pesa, pois só assim poderemos encetar o novo capítulo que se anuncia à nossa frente. Representa o Princípio Universal da Transformação, entendendo-se aqui “transformar” como “atravessar a forma”, transitando para um outro estado. Há também uma dimensão de crise neste processo, pois a necessidade de mudança é profunda e radical.
A Morte pede-nos que aliviemos a nossa vida de tudo o que já está velho e caduco, para darmos espaço ao que é novo e que precisa de se afirmar. Com ela, o Diabo vem dar-nos a coragem para uma independência pessoal absoluta, assumindo os riscos e as consequências. Seja o que for que aí vem, vai ser diferente, e cada um de nós está em condições de se regenerar, de acordo com a sua verdade mais íntima e radical.
Imagem : Orien’s Animal Tarot, de Ambi Sun, 2021
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