Por Clara Days:
Ideias-chave: da intuição à regulação; silêncio dentro, estabilidade fora; a sensibilidade à procura da ordem.
Com o Solstício, vem o Imperador, trazendo o seu exército feito de regra, organização e estrutura. Mas a Sacerdotisa ainda paira nas nossas vidas, tal como tem vindo a inspirar este final de Primavera, como se seja inevitável: para o que temos dentro, ainda não houve solução, até porque não é fácil identificar uma solução neste território íntimo e secreto. Lá vem agora o Imperador, convicto e assertivo, a querer pôr ordem no nosso mundo exterior, ou pelo menos tentá-lo.
Não pode haver par mais dissonante do que o que formam estes dois. Funcionam em mundos paralelos que se não interceptam, e vai ser entre esses dois diferentes planos que vamos jogar, nos próximos dias. Por um lado, temos o território da Sacerdotisa, que é subjectivo, irracional, interno, dando azo à fantasia e alimentando a imaginação. Já o Imperador governa o mundo exterior, concreto, imprimindo a sua dinâmica às coisas para tornar a nossa vida mais clara, ordenada e estável.
Como vamos viver com os dois, nesta semana de Solstício? Só vejo duas possibilidades: conflito ou alternância.
Conflito: tanto quanto a Sacerdotisa sabota as certezas do Imperador, este último propõe uma forma de estar a que ela não se sabe acomodar. Mais do que serem incompatíveis, estes dois não se entendem: não falam as mesmas linguagens, não valorizam as mesmas coisas, estabelecem prioridades de modo totalmente oposto. E poderemos andar nós em permanente insegurança, traccionados em direcções inversas, que tanto nos pedem silêncio e introspecçãocomo parecem querer obrigar-nos a vir a terreno com propostas e soluções práticas para uma vida pública que, intimamente, não queremos levar dessa maneira.
Alternância: uns dias mais Sacerdotisa, outros mais Imperador, as noites assim e os dias assado, como se levemos duas vidas diferentes e transitemos de uma para a outra, e vice-versa, ao ritmo do tempo. Se, por despego ou inconstância, obtivermos o milagre de viver nestas transições, sem sobressaltos, talvez consigamos navegar os próximos dias sem conflito, mas não teremos certamente sossego.
Se houvesse aqui um jogo de forças, eu diria que o Imperador se está a querer impor à Sacerdotisa. É como se ele venha, armado em dono da razão e da verdade, pedir que nos desfoquemos do olhar que temos tido virado para dentro, que interrompamos um silêncio que se nos tem imposto e que acordemos para a vida concreta, preparados para a resolver. O Imperador quer-nos em estado de prontidão e tem a convicção de que sabe como fazer as coisas entrar “na ordem”.
Por muito que a Sacerdotisa lembre que as certezas são ilusões, que temos ainda questões íntimas que não podem resolver-se do pé para a mão, que temos ainda necessidade de ouvir a nossa voz interna, silenciosa e secreta, o Imperador certamente não se compadece e quer pôr uma pedra sobre a incerteza, arrumando-nos os dias. Conseguirá? Ainda que sim, ou pelo menos em parte, não será simples, nem fácil. Esperemos as respostas que o futuro reserva.
Bom Solstício para todos vós!
Image: English Magic Tarot, de Andy Letcher, Steve Dooley e Rex Van Ryn
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