Por Clara Days:
Ideias-chave: sentir, intuir, estar; espiritualidade com fisicalidade; foco interior, cuidando do corpo.
Temos pela frente uma semana no “feminino”: os dois Arcanos que melhor representam os arquétipos relativos ao conceito de “mulher” juntam-se para nos inspirar, quer na sua dimensão lunar – intuitiva, receptiva, como a Sacerdotisa –, quer na sua dimensão venusiana – física, conectada com tudo o que é vivo e natural, como a Imperatriz. O sonho e a realidade tocam-se, por assim dizer, através destes dois canais que correspondem, respectivamente, a uma entidade espiritual e a outra mais carnal.
A presença da Sacerdotisa é uma continuidade: desde o início de Maio que nos vem acompanhando, símbolo do poder da Lua sobre o nosso mundo interior. A importância do silêncio, a intuição, a percepção inconsciente têm sido uma constante, nos tempos recentes, a puxar-nos “para dentro”. Mas, agora, vem a Imperatriz “ligar-nos à terra”, na acepção mais literal e mais profunda dessa ligação: os sentidos, as sensações, o pulsar da vida física, nossa e dos outros, que se impõe também.
Elas não se contradizem, governam reinos distintos. Antes diria que se complementam, ainda que possa cada uma ter dificuldade em compreender a outra, na radicalidade que leva a Sacerdotisa para o espírito e a Imperatriz para o corpo. Podem estranhar-se mutuamente, mas não disputam território. Saberemos nós encontrar a síntese duma com a outra?
Este é o desafio destes dias: vamos precisar de conciliar a intensidade subjectiva que nos tem elevado e sobressaltado internamente com o apelo muito concreto para nos ligarmos ao corpo, à matéria, a tudo o que vive e que pode ser por nós acompanhado e cuidado. Não podemos perder-nos no mundo da Lua, quando a Mãe-Terra clama por atenção; a dificuldade estará em conciliar estes apelos simultâneos, quer no tempo, quer no espaço.
O conselho mais importante será que não negligenciemos o que está vivo e precisa de cuidados, a começar pelo nosso próprio bem-estar e saúde. A força das necessidades internas, subjectivas ou espirituais (se assim lhes quisermos chamar) continua, mas temos que olhar em volta e cuidar do que precisa de ser cuidado. Eu diria mesmo que o caminho para o possível bem-estar espiritual passa agora pelo bem-estar físico, na sua acepção mais simples e natural. Conectemo-nos com a natureza, cuidemos de nós e dos outros, liguemos o nosso estar ao ritmo das coisas vivas que estão à nossa volta.
Temos vivido muito pressionados pelo que vai acontecendo. Talvez que agora seja o momento de parar e deixar estar, focando-nos no que é mais primário e essencial: a vida. Qua cada um cuide bem de si e da vida que tem à sua volta. Qua cada um volte ao que é mais simples e natural e possa encontrar aí a força para prosseguir. Talvez seja o segredo para o bem-estar espiritual que temos buscado, quem sabe…
Imagem: The Fantastic Menagerie Tarot, de Karen Mahony, baseado nas ilustrações do artista vitoriano J. J. Grandville, 2006
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