Por Clara Days:
Ideias-chave: equilibrar o impulso para recomeçar com os fantasmas do passado; ajustar a inconsciência e a irracionalidade; encaixar na vida real o potencial absoluto e a ilusão
Não fora a mediação da Justiça e seria difícil gerir a inconstância desta semana. Com o Louco a empurrar-nos para a frente, sem medir consequências, e a Lua a assombrar-nos por dentro, estaríamos provavelmente desorientados; mas a sensatez do Ajustamento, puxando-nos para vida real e obrigando-nos a ser razoáveis, é o fio que nos prende e que define os limites dentro dos quais podemos agir, assumindo as nossas responsabilidades.
Vejamos primeiro o Arcano Zero, o potencial absoluto, disponível para seguir em qualquer direcção e arriscar qualquer caminho, ainda sem bagagem que lhe pese. É a eterna criança, o mais despojado dos sábios ou um verdadeiro louco? De todos tem um pouco, na verdade. Podemos dizer que não tem consciência, mas também pode ser que tenha atingido um nível superior de consciência que lhe permite abraçar o absoluto. É aquele que começa e recomeça, ignorando os perigos e assim correndo todos os riscos, sem ter noção ou sem considerar as consequências dos seus actos. Não reconhece imposições, não conhece os seus limites. A coragem do Louco não é racional ou consciente, por isso talvez não se possa chamar-lhe verdadeiramente coragem: é um impulso que o leva a explorar, a experimentar, a arriscar.
A consciência da Lua é também muito relativa. Ela lida com os aspectos mais escuros do inconsciente, com o passado que nos prende, com os traumas e os medos. Se o Louco tem falta de memórias, a Lua tem memórias reprimidas, que nos perseguem sem que saibamos lidar com elas. Mas o Arcano Dezoito tem também a luz suave que nos pode ajudar a iluminar esses recantos da alma, se nos dispusermos a isso. Para o Zero, é um exercício difícil, certamente. Se estivéssemos apenas a lidar com estes dois, seriam dias muito desafiantes.
Não é por acaso que também se chama à Ajustamento à Justiça, Arcano Oito (ou Onze, segundo algumas escolas). É que, se o conceito de “justiça” nos remete para o exercício do equilíbrio e a busca da equidade, em situações conflitantes, a ideia de “ajustar” considera mais a necessidade de encontrar um meio de transformar as situações de modo a que se adaptem à realidade que as rodeia. Há neste arcano um enorme sentido de responsabilidade, uma noção de causa e consequência que é totalmente ausente no tipo de pensamento característico do Louco ou da Lua. Estes últimos levam-nos por caminhos desconhecidos, ou pelos difíceis caminhos da alma, mas não nos fazem medir e contrapesar os nossos actos em função do que nos rodeia e do efeito que têm na realidade externa.
Assim, nestes dias que vamos vivendo, os excessos do Louco poderão ser controlados, as ilusões da Lua poderão ser atenuadas. A chamada à realidade impera, se nós quisermos.
Imagem : Tarobot, de Michael Murdock, 2020
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