Por Clara Days:
Ideias-chave: Liberdade responsável; entre o arrojo e a ponderação; arrisco, mas enquadro-me.
Após a Lua Nova em Leão, que deu início a um ciclo novo, a onda que se gerou continua a correr no mesmo registo: há um impulso de (re)começo que temos que ser capazes de ajustar às circunstâncias presentes. O exercício é mais exigente do que pode parecer, à primeira vista.
Lidar com o Louco é sempre arriscar o imponderável e correr em frente, sem avaliar os riscos. A essência deste Arcano é infantil, no seu sentido mais puro. Com o Louco eu avanço em qualquer direcção, exploro sem medir as minhas forças ou considerar o perigo. Há ingenuidade e inocência, mas sempre também um enorme potencial. O Louco é o protagonista do Tarot, o Eu em estado puro, em estado bruto.
Encaremos os 22 Arcanos Maiores do Tarot como aquilo a que se pode chamar a Viagem, ou Jornada, que o Louco (o Zero) faz pelos restantes 21. Se considerarmos que estes se dividem em 3 septenários, cada um com 7 etapas, a Justiça, ou Ajustamento (número Oito, embora haja quem lhe atribua o décimo primeiro lugar), é o primeiro Arcano do segundo septenário.
No primeiro septenário há um percurso de construção da identidade, e no segundo inicia-se a relação com a alteridade, com o que está fora e interage ou condiciona. A Justiça, ou Ajustamento, abre o cortejo, advogando a importância do equilíbrio e da ponderação, avaliando a relação entre causas e consequências e preconizando que devo ajustar-me ao que me rodeia, adequando o meu comportamento e decisões às circunstâncias externas.
Quando o Louco viaja pela etapa da Justiça, ele precisa de se tornar racional e responsável. É confrontado com opções e tem de ser ponderado nas decisões. A relação causa-efeito é-lhe demonstrada pelos factos e a criança inconsciente tem de aprender a racionalizar e relativizar. As suas escolhas produzirão mudanças cujas consequências deve tentar ser capaz de antecipar, na medida do possível.
Lidando em simultâneo com o Louco e o Ajustamento /Justiça, nesta semana, deveremos continuar a sentir o apelo do desconhecido, mas haverá sempre algo a travar-nos ao nível da consciência, a fazer-nos equacionar as escolhas de um modo mais racional e ponderado.
Atiro-me, arrisco, ou ainda não, ou faço de modo diferente? Como gerir estas tendências contraditórias e simultâneas? Poderemos ser mais loucos, ou mais ajustados, mas haverá sempre uma ponta de loucura no ajustamento, ou um momento de ponderação na loucura.
Imagem – Complete Kit Tarot, de Dennis Fairchild, 2002
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