O HIEROFANTE V E A JUSTIÇA / AJUSTAMENTO VIII / XI

Por Clara Days:

Ideias-chave: conformismo e equilíbrio; realismo e regra; ajusto-me e integro-me.

Sai de cena o Louco, que o tempo parece não estar mais para voos sem rumo certo. Há um imperativo que nos puxa à realidade e nos faz procurar a protecção do grupo de referência, ainda que para isso tenhamos de pagar o preço de agirmos apenas dentro das regras estabelecidas.

Olhamos à volta e as circunstâncias impõem-se-nos, clamorosamente. Ou nos ajeitamos a elas, ou perderemos o pé. É como se agora não nos possamos mais dar ao luxo de arriscar; riscamos o mais que podemos o imponderável do nosso cenário, procuramos o equilíbrio possível. Não há rasgos de alma para ninguém, que não estamos em época disso.

O esforço de nos ajustarmos vai em duas direcções simultâneas: por um lado (e é a Justiça a ditar) impera o realismo, que nos faz analisar sem preconceito o cenário que nos rodeia e adaptarmo-nos a ele, sem questionamentos inúteis. Mas, por outro lado, o Hierofante leva-nos a ir mais fundo, ao nível dos valores e convicções, oferecendo-nos a sua orientação, a troco da nossa obediência – é o conformismo. Entre realismo e conformismo nos situamos, portanto.

Não vamos imaginar cenários. Não vamos especular, questionar ou desafiar. Não queremos ser navegadores solitários sem bússola, antes nos ancoramos no que está à nossa volta e naquilo em que escolhemos acreditar. Mais do que uma chamada à realidade, é a assunção de que, perante as minhas circunstâncias, eu tenho que jogar apenas com as cartas que estão à vista e devo procurar o abrigo dos que me são afins. O acto é consciente, sem margem para dúvidas ou incertezas.

O guia que sigo pode ser espiritual ou ideológico, é aquele com quem me identifico e por isso me sujeito a cumprir com o que me for ditado: vergo-me, perante a tradição que representa. Sou só um entre muitos, entre os que pensam como eu e seguem estes ditames. No meio de tantos outros, sinto-me mais seguro, não quero estar só e pago o preço da pertença, ao ajeitar-me às regras, sem sequer as questionar.

Esta é uma etapa calculada e cautelosa, mas não cobarde. São tudo escolhas e faço-as conscientemente. Acima de tudo, procuro encontrar equilíbrio e sentir-me acolhido.

Imagem: Wild Messengers Alchemical Tarot, de Lola Pickett, Tanya Casteel e Tigre Pickett, 2019

Clara Days

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