Por Clara Days:
Ideias-chave: em si e em marcha; de bem com o corpo, seguir em frente; sentir, estar e desapegar
Nesta semana de transição, jogo-me em dois tabuleiros, que não precisam de ter a mesma agenda: o do corpo e do estar, de um lado e, do outro, o do espírito e das decisões. É uma parceria improvável, a que une a Imperatriz-Mãe, dos sentidos e da nossa natureza mais natural, ao jovem guerreiro no seu Carro, saindo do aconchego do lar, que parte sem olhar para trás.
Curiosamente, mas não certamente por coincidência, a união de esforços destes dois arcanos vem com a Lua Cheia e o Equinócio de Setembro, pouco menos de seis meses depois de aqui nos ter visitado na primeira Lua Cheia da Primavera passada (outono no Sul). Isto parece ser um sinal de que há um ciclo que se renova ou replica, no lado simétrico do ano, regido pela energia combinada da Imperatriz e do Carro. A partir daqui a primeira pergunta que ocorre é se estaremos a voltar atrás, e para isso a resposta é imediata: com o Carro, nunca se anda para trás, não é essa a sua natureza. Analisemos então o potencial desta união, decompondo-a.
A Imperatriz remete-nos para o estar, numa atitude absolutamente não-intelectual, vinculando-nos ao que nos rodeia como sua cuidadora – ela está para as crianças como para tudo o que é natural e vivo, na atitude mais maternal possível. Representa o Princípio Feminino manifestado na matéria, as forças da vida, actuando e reproduzindo-se no Universo. Ela é a síntese, o três, união do um com o dois. No plano humano, representa a Mãe e as suas funções. Corresponde astrologicamente a Vénus, planeta de afectos e uniões.
Por seu lado, o Carro, última carta do primeiro septenário (do processo de afirmar-se e criar a própria estrutura pessoal), representa o momento da ruptura com as origens, a renovação criativa do ser, correspondendo ao Princípio do Desapego. Ele leva o Louco, na sua viagem, a entrar num novo ciclo, afastando-se da zona de conforto em demanda de novas paragens. Vai em modo guerreiro, defendido para não sofrer, capaz de se desvincular dos laços que o prendiam no passado, mas receoso de criar novos laços, num processo solitário e corajoso. Vai decidindo o seu caminho ao longo do percurso, em cada encruzilhada que encontra, pois não tem um rumo pré-definido, nem um objectivo determinado. Este Arcano Maior corresponde astrologicamente ao signo de Caranguejo, emocional e protegido.
Estas cartas inspiram em duas direcções: a do sentir-se bem em si, no estar e no cuidar, e a de partir de onde se tem estado, rompendo com o passado recente, em busca de novo caminho. É uma etapa ainda de começo de demanda, impulsiva e corajosa, onde as responsabilidades estritamente pessoais são salvaguardadas pela Imperatriz, enquanto o Carro nos leva à procura de novidade.
Começa uma viagem, cada um de nós vai ao comando. O que encontraremos, no fim, só o futuro dirá…
Imagem : The Ellis Deck Tarot, de Taylor Ellis, 2013
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