Por Clara Days:
Ideias-chave: seguir o instinto, arriscar; inocência ou auto-preservação; vale tudo.
Ainda que haja uma linha fina que nos separa de um possível desastre, estamos em maré de arriscar. Quando o Louco encontra o Diabo, o instinto toma o comando e vale tudo. O Hierofante, apelando aos valores colectivos, insiste em pairar, mas será difícil travar estes outros dois…
O Diabo não é maléfico, antes representa, acima de tudo, o princípio da auto-preservação. Se muitos, na escola antiga, consideravam que este Arcano nos aprisionava e reduzia aos nossos impulsos mais “baixos”, eu vejo-o como um libertador da essência vital que transportamos, disposto a tudo enfrentar para nos defender da prisão. Quando os instintos são reprimidos e manipulados, somos levados a um estado de alienação. O Diabo é libertário e leva-nos a assumir a nossa essência e não a reprimi-la, ou deixarmo-nos manipular. Vêm “hierofantes” e pregam a moral e os bons costumes, só que o Diabo é amoral: individualista, está disposto mesmo à solidão, se isso for necessário, para que viva de acordo com quem se sente ser. Na sua faceta negativa, no entanto, pode levar-nos a caminhos de consumo de substâncias viciantes ou outros comportamentos aditivos.
O encontro do Louco com este Arcano Maior 15 pode ser um momento de maturidade, em grande medida: enquanto que o Louco, na sua inocência primordial, corre riscos sem saber que os corre, o Diabo arrisca em plena consciência. Assim, nesta fase da sua Viagem, o Louco assume o resgate dos seus instintos como forças naturais, independentemente de toda a carga de preconceitos e tabus que as tradições culturais lhes associam. Ele sabe que arrisca a sua autenticidade, mas assume-se plenamente, agindo de acordo com a sua natureza e afirmando-se na realidade.
O Hierofante paira ainda, mas terá dificuldade em assumir algum controle. É o Arcano que tem vindo recorrentemente, de há uns tampos para cá, a lembrar-nos o quanto temos que pagar, da nossa liberdade individual, para pertencer ao nosso grupo de referência. É possível que sintamos a sua pressão conjuntural, a tentar travar-nos, como um sinal dos tempos, mas Louco e Diabo juntos são uma verdadeira “força da natureza” a impulsionar-nos e será certamente fácil reconhecermos essa influência libertadora.
Com o Louco e o Diabo à solta, nesta semana em que teremos um eclipse da Lua, no dia 8 de Novembro, parecemos estar dispostos a tudo arriscar, a cavalgar sem rédeas, de acordo com o que nos é mais espontâneo, íntimo e natural. Resta saber se, depois, nos vamos arrepender…
Imagem1: Zillich Tarot, de Catherine Zillich, 2018
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