Palavras-chave: desapego, inquietação e busca; movimento externo, desassossego interno; parto para me encontrar.
Há um sentimento de desconforto a que só podemos responder partindo. Quando a Lua nos assombra o espírito e o apelo do Carro nos quer tirar de onde estamos, somos capazes de tudo largar, mesmo que isso não nos traga consolo imediato. Por isso, a semana apresenta-se de desafios, a nível pessoal.
O Carro simboliza no Tarot um fim de etapa, a da auto-afirmação e construção da identidade. Quando o peregrino atinge este estádio, está capaz de se desapegar da origem, de fazer o corte definitivo do cordão umbilical que o prendia, rumo à independência e à idade adulta. Parte sem rumo ou destino certo, determinado a ir descobrindo a cada encruzilhada do percurso, qual a melhor direcção, que terá que decidir sozinho, forçando os seus cavalos a prossegui-la.
Já a Lua, segundo dos três corpos celestes da etapa final do Tarot, simboliza o lado sombrio do nosso ser, com os seus medos, traumas ou fantasias, aquele que procuramos ocultar, mesmo de nós mesmos. Nada há de confortável ou prazeroso nesta necessidade de procurar compreender o inconfessável.
Juntos, estes dois Arcanos Maiores trazem, certamente, o peso das descobertas e decisões solitárias. Deslocando-se no espaço e no tempo, o condutor do Carro vai armado e defendido, como se receie que tudo o que vai encontrar possa representar perigo ou ameaça. Já a energia da Lua é nocturna e intimista, levando-nos a viagens interiores que podem assombrar e assustar.
Por isso, precisamos de nos questionar sobre as razões de tantos medos. Com estes dois companheiros de viagem, tudo parte de nós, da nossa vontade (com o Carro) ou da nossa pessoa mais íntima (a Lua). Porque tememos? Sabemos que é provável que domine a desconfiança, por isso acho que devemos combatê-la.
Consideremos primeiro o Carro: ele dá-nos oportunidades de descoberta que nunca antes se apresentaram, e a Lua, a seu modo, faz outro tanto. Focando-nos nesta dimensão, podemos adoptar uma postura mais optimista perante a novidade, que não é necessariamente ameaçadora. O desconhecido não é ameaçador por si só, é apenas… desconhecido. Abramos o espírito para o receber com curiosidade e não com receio.
Do outro lado, temos a Lua: se as viagens do Carro são concretas e nos levam a novos lugares e experiências possíveis, a demanda íntima que a Lua nos propõe pode explicar-nos os porquês dos medos, as raízes dos males que nos afligem a alma. Esta é uma faceta do auto-conhecimento que nem todos estão preparados para enfrentar, mas que é a única que nos permite ultrapassar definitivamente esses problemas. A Lua não trabalha à superfície, antes pelo contrário: procura as razões mais profundas, as experiências mais antigas e marcantes que determinaram bloqueios, receios ou traumas. Sejamos capazes de fazer isso com a tranquilidade de saber que o que visitamos são fantasmas, não realidades presentes ameaçadoras.
Com o Carro e a Lua, estaremos perante nós próprios, a nossa vontade, os nossos medos e as decisões a tomar no caminho. Que cada um esteja à altura do melhor de si.
Imagem: Hudes Tarot, de Susan Hudes e A.L. Samul, 1997
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